terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Barroco.

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

( Gregório de Matos)


Este poema faz parte dos poemas lírico-filosóficos de Gregório de Matos, também conhecido como "O boca do inferno" devido às suas famosas sátiras. Ao lermos atentamente o poema, podemos observar o lado pessimista do eu-lírico, como ele se sente angustiado diante da vida e tem noção de sua efemeridade.
Conforme sabemos, o Barroco nos apresenta como conteúdos, conflito espiritual, morbidez, gostos por raciocínios intricados, consciência de efemeridade do tempo, Carpe diem, oposição entre o lado material e espiritual. Tudo isto condizente com o espírito do homem do século XVII dividido entre o que poderia ser certo e o errado naquele contexto social da Contra-reforma.

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